sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Primeiro dia de Rio Music Conference discute o futuro do mercado do entretenimento

Palestrantes discutiram novas estratégias e diferenciação dos negócios

Engana-se quem pensa que o carnaval carioca se resume a blocos e desfiles de escola de samba. Nessa quarta-feira, dia 10, teve início na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, a segunda edição da Rio Music Conference, o maior encontro de música eletrônica do Hemisfério Sul, com debates, workshops e, é claro, festas do gênero.

No primeiro dia do evento, sob forte calor que beirava os 40ºC e com atraso de aproximadamente 1 hora, o secretário de Turismo da cidade do Rio de Janeiro Antônio Pedro abriu os trabalhos da The Conference, feira de negócios com ênfase no mercado que recebeu nomes importantes do universo eletrônico para discutir temas como mercado, direitos autorais e música digital.

Economia e Mercado

Mediada por Rodrigo Vieira, a primeira mesa da noite recebeu Roberto Verta (Time For Fun), Octavio Fagundes (Grupo Privilege), Luiz Eurico Klotz (3Plus) e Ryan Keeling (Resident Advisor) para discutir economia e o mercado de entretenimento no Brasil. Apesar da turbulência econômica de 2009, os palestrantes se demonstraram otimistas com as perspectivas para o mercado de shows e festas no país: "O mercado de entretenimento no Brasil passa por um processo de profissionalização", explicou Verta, que recentemente trouxe shows de Metallica ao país. "Isso fez com que a crise econômica fosse apenas uma 'marolinha' para o nosso setor", continuou, fazendo referência ao presidente Lula.

Octavio Fagundes, responsável pelo grupo Privilege, faz coro com Verta e acredita que cada vez mais as pessoas utilizarão seu tempo livre com entretenimento. Para o empresário, iniciativas como o Rio Music Conference são fundamentais para o mercado: "Falta uma referência de música eletrônica no hemisfério sul. O Brasil entrou na moda há 5 anos, vivemos um grande boom".

Fagundes, no entanto, pondera que embora viva um momento positivo, o mercado de entretenimento é de risco: "Vejo muita gente quebrando a cara. Não pelo mercado, mas pela falta de competência. As pessoas pensam que trabalhar com a noite é fácil", avalia. Luiz Eurico Klotz, dono da 3 Plus, uma das maiores agências de DJs do país, é taxativo: "Antigamente, todo mundo queria ser técnico de futebol no Brasil. Hoje em dia, todo mundo quer ser DJ", exagera.

Diferenciação de negócios

Klotz explica que, diante de tanta concorrência no ramo de festas e DJs, é preciso buscar alternativas para não ficar para trás: "Existe muita demanda, mas existe ainda mais concorrência. A tecnologia fez com que o mercado se movimentasse. Hoje em dia é mais fácil ser DJ. Sem coisas novas e diferentes você não sobrevive".

No setor de shows não é muito diferente, avalia Verta. O empresário explica que embora a indústria de shows tenha vivido por muitos anos da venda de ingressos, o mercado tem exigido um modelo diversificado de negócios. Para ele, patrocínio e venda de alimentos e bebidas nos eventos são algumas das formas de diminuição de riscos. Ryan Keeling, do Resident Advisor, revela que publicidade é a maior fonte de rendas do seu negócio.

Questionado sobre o preço das entradas, o representante da Time For Fun culpa o custo Brasil e a questão da meia entrada para estudantes. Fagundes concorda e enfatiza a questão do desconto: "Acho que o Estado tem que subsidiar os estudantes. Só que, muitas vezes, o jornalista ou o advogado ganham menos do que um deles. Esse repasse acaba acontecendo, mas não é justo", polemiza.




Profissionalização x Vulgarização dos DJs

Por último, os palestrantes ainda discutiram as novidades da cena e, perguntados pelo público formado em sua maioria por jovens (aspirantes a) DJs, deram dicas de como se inserir no mercado. "Se eu fosse alguém jovem e com vontade, importunaria alguém como eu, do meio", sugere.

"Se você gosta mesmo de tocar, vá atrás", completa, lembrando ainda o papel da internet para os jovens talentos: "Nenhum DJ vai adiante se não tiver sua produção na internet. O Gui Boratto é um exemplo. Ele é requisitado pela sua produção, óbvio, mas isso só acontece porque sua música é disseminada".

A primeira divergência entre os palestrantes acontece o assunto é a vulgarização da profissão e da proliferação de celebridades que 'atacam de DJs'. Fagundes, do Grupo Privilege, é objetivo: "A gente está trabalhando para que as pessoas se divirtam. Não me importa se o DJ Jesus Luz trouxe o CD pré-mixado ou não. O que importa é a diversão das pessoas". Já para Klotz, isso soa como uma acomodação da cena: "As pessoas estão preocupadas em se divertir. Elas não querem saber se é Jesus ou Maomé. O palco está lá e o que todo mundo quer é aparecer", lamenta. Ainda assim, o empresário enxerga o lado positivo do fenômeno: "Tem o lado bom também. Todo mundo torce o nariz para o quadro de discotecagem do Faustão, mas a gente reverencia esse tipo de atitude. Bem ou mal, é uma maneira de mostrar a arte que a gente faz", finaliza.

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