sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

DJ Jesus Luz foi pauta recorrente nas mesas de debate do Rio Music Conference

Se o primeiro dia da The Conference, a feira de negócios do Rio Music Conference, foi voltada para o futuro da indústria do entretenimento, o segundo dia focou no personagem principal quando se trata de música eletrônica: o DJ.

Os produtores musicais Gui Boratto e Felguk, o DJ Maurício Lopes e o empresário Gabriel Gaiarsa, da Clash Club, de São Paulo, discutiram sob a mediação de Camilo Rocha o momento em que a classe vive no Brasil.

O ponto de partida para a mesa redonda foi a diferenciação da figura do DJ e do produtor. Gui Boratto, produtor comumente apresentado como DJ, foi didático em sua explicação: "Eu sou um produtor, toco produções minhas, coisas que eu construo. No máximo, toco um remix feito por mim. O DJ é outra coisa, é o cara que constrói uma história, uma sequência, a partir de outras músicas. Para o público não faz diferença, ainda mais com tantos DJs tocando com laptops", ensina.

Maurício Lopes, por sua vez, encara a confusão como um reflexo da exigência do mercado. "Todo mundo virou DJ, agora todo mundo está virando produtor. O mercado criou essa exigência, só que acaba surgindo muita coisa ruim, né?", avalia. Boratto endossa o discurso do DJ: "A gente conta nos dedos de uma mão os caras que são bons produtores e bons DJs".

Apesar de concordar com os pontos levantados pela mesa, Gabriel Gaiarsa, do Clash, relativiza a questão. "Ninguém dança mixagem, as pessoas dançam música. Uma mixagem incrível de duas músicas ruins não faz ninguém dançar", pondera.

DJs-celebridade voltam a ser pauta do evento

A frase do empresário abriu precedentes para a retomada de um ponto que já havia sido discutido na noite anterior, o das celebridades que fazem as vezes de DJs em festas, sendo o atrativo principal dessas baladas. Gaiarsa pontua que, hoje em dia, o carisma talvez tenha substituído, em parte, a qualidade da mixagem. Ele também acredita que esses celeb-DJs não são exatamente culpados pelo fenômeno: "Tem o caso do Jesus Luz, por exemplo. O cara está aproveitando uma oportunidade que deram para ele".

Independente de estar certa ou errada, do ponto de vista do business de Gaiarsa e de Octavio Fagundes, do grupo Privilége, que palestrou na noite anterior, a afirmativa tem lá seu sentido. Fagundes já havia sido taxativo nesse ponto. Para o empresário, ele trabalha para que as pessoas se divirtam: "Não me importa se o DJ Jesus Luz trouxe o CD pré-mixado ou não. O que importa é a diversão das pessoas".

Diversão essa que sai cara, no entanto, para os outros DJs. Mauricio Lopes avalia que a existência dos disc-joqueis-celebridades prejudica os profissionais do ramo: "Acho legal que o cara famoso esteja discotecando. Quem eu não acho legal é o sujeito que contrata esses caras. Por causa disso é que o mercado se acostuma a pagar mal", afirma, explicando em seguida que a maioria dos famosos que "ataca de DJ" não cobra cachê por isso.

Já para Luiz Eurico Klotz, da 3Plus, que participou ao lado de Fagundes do The Conference no dia anterior, não só o contratante tem sua culpa no cartório, mas a cena também: "Isso é reflexo da acomodação da cena. As pessoas também só estão preocupadas em se divertir. Elas não querem saber se é Jesus ou Maomé. O palco está lá e o que todo mundo quer é aparecer".

São muitos pontos de vista diferentes, o que acaba tornando a discussão extensa e inconclusiva. A forma como a existência desses DJs-celebridades vai influenciar o futuro da classe ainda não se sabe, mas Gabriel Gaiarsa vê, de certo modo, sob uma perspectiva otimista: "Eu prefiro atores sendo chamados de DJs do que traficantes, como era antigamente", conclui.

Nenhum comentário: